'Brasil não está preparado', diz oncologista sobre aumento de mortes por câncer

17.04.18


O Globo

Levantamento mostrou que doença já é a principal causa de óbito em 10% das cidades.

RIO - O Observatório de Oncologia divulgou nesta segunda-feira, dia 16, um levantamento que mostra que o câncer já é a principal causa de morte em quase 10% das cidades brasileiras, superando as doenças cardiovasculares, tradicionalmente a causa que mais mata no Brasil e no mundo. Na pesquisa, que tem como base os dados mais recentes do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), o câncer aparece em 516 municípios como causa de óbito mais fatal do que qualquer outra, à frente de mortes violentas como em homicídios e acidentes de trânsito. 

Coordenador científico do Grupo Oncologia D`Or, Daniel Herchenhorn conversou com O GLOBO sobre as principais hipóteses capazes de explicar esse cenário, como aumento da expectativa de vida e subnotificação de outras doenças. Ele destacou, também, a necessidade de traçar um planejamento mais eficaz no Brasil para diagnóstico e tratamento do câncer.

O que pode explicar o câncer ter se tornado a primeira causa de morte em quase 10% das cidades do Brasil?

Confesso que fiquei um pouco surpreso com o dado. Mundialmente falando, o câncer aparece smepre como a segunda maior causa de morte, atrás de doenças cardiovasculares. Por isso, constatar que ele é a primeira causa em 10% das cidades me causa certa surpresa. Existem duas possibilidades para explicar isso, a meu ver: o aumento desproporcional de câncer dentro desses munícipios por conta das características genéticas e fenotípicas da população; e uma possível subnotificação de outras doenças. Sabemos que, no Rio Grande do Sul, estado que tem mais municípios destacados no levantamento, existem muitas pessoas descentendes de italianos e alemães, e isso pode estar relacionado a uma maior incidência de câncer de pele, em especial o melanoma, que é o mais agressivo. Também há naquele estado um índice um pouco maior de câncer de exôfago, por conta da ingestão frequente de chimarrão, mas acho que isso não seria o suficiente para elevar o número de casos no total. 

O Brasil está preparado para lidar com esse aumento de mortes por câncer? 

Acredito que não. Não temos um plano eficaz para tratar a população no futuro. Não estamos dedicando verba suficiente para pesquisa sobre câncer para controlar isso daqui a 50 anos. Hoje, a maioria das pessoas chega ao sistema de saúde com a doença em estágio avançado, e então as taxas de cura são baixas. E isso faz com que as pessoas ainda não consigam olhar de frente para o câncer, porque para grande parte das pessoas no Brasil o câncer ainda é uma sentença de morte, ainda é "aquela" doença. 

Quais são os pontos em que o Brasil é deficiente no diagnóstico e no tratamento?

O país infelizmente não oferece remédios de forma uniforme às pessoas com câncer, nem oferece aparelhos de radioterapia de forma homogênea. Tudo é muito concentrado nas regiões Sul e Sudeste, e há uma carência absurda de medicamentos e aparelhos no Norte e no Nordeste. Existe hoje um plano de mamografia que cubra a população feminina como um todo? temos um controle de tabagismo tão eficiente quando há 10, 20 anos atrás? A projeção, de fato é, que cada vez mais os países em desenvolvimento terão mais casos de câncer, e, se não se prepararem, terão cada vez mais mortes. A Organização Mundial da Saúde (OMS) já vem avisando isso há algum tempo. O que estamos fazendo para resolver isso e nos proteger? Na minha avaliação, pouco está sendo feito.

Quais as principais formas de prevenção do câncer em geral? 

Vários tipos de câncer estão relacionados ao estilo de vida. É preciso um combate ao sedentarismo e à obesidade, e isso se faz praticando exercícios físicos e fazendo escolhas de alimentação saudável e natural. Não fumar, nem beber álcool também é muito importante. Além disso, é bom evitar exposição ao sol, e só fazer isso com protetor solar. Por fim, claro, fazer os exames periódicos de acordo com o sexo e a idade: colonoscopia, papanicolau, mamografia e tomografia de tórax para pacientes fumantes e ex-fumantes, por exemplo.




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