O cigarro destrói corações

31.05.18


Jornal do Brasil

Em mais um Dia Mundial Sem Tabaco, o alerta da Organização Mundial da Saúde (OMS) joga luz sobre um problema que é ainda a maior causa de mortes no Brasil e no mundo: as doen- ças cardiovasculares. Ao menos 2 milhões dessas mortes ao ano poderiam ser evitadas, pois estão associadas ao tabagismo ativo ou passivo. 

Avançamos ao adotar políticas como leis antifumo, advertências sanitárias, restrições à propaganda e aumento de tributos de produtos de tabaco. E o governo acaba de assinar a ratificação de um instrumento legal para conter o comércio ilegal de produtos de tabaco, uma importante conquista. O cigarro já não ocupa mais o mesmo lugar na sociedade, e as pessoas têm mais acesso à informação do que no passado.

Mas a indústria resiste em seu negócio, e ainda temos 21,9 milhões de fumantes no Brasil, de acordo com o IBGE. Desses, 49% desejam parar de fumar em curto prazo, nos próximos seis meses (ITC 2017). É preciso ampliar o acesso ao tratamento e seguir avançando nas políticas que devolvem aos produtos de tabaco sua verdadeira condição: a de droga psicoativa com alto poder de causar dependência, doenças e mortes. 

Nenhum produto fumígeno, derivado ou não do tabaco, é inócuo. Mesmo em diferentes formas de apresentação, continuam provocando dependência e impacto na saúde. O fumo destrói corações, como diz o slogan do Dia Mundial, ceifa vidas e afeta famílias inteiras.

E isso não se limita aos fumantes. Produtores também adoecem pelo contato direto com as folhas de tabaco, desenvolvendo a doença da folha verde, além de intoxicação pelo uso de agrotóxicos. Pouco se divulga sobre essa outra ponta de impacto do tabaco. Apoiar a diversificação de cultivo é uma necessidade imediata no país.

Além disso, prevenir a iniciação e apoiar a cessação do tabagismo, ampliando a adoção de políticas públicas, são as chaves para que possamos reverter o quadro em que doenças cardiovasculares e cânceres causados pelo fumo estejam entre as causas principais de mortalidade.

As doenças relacionadas ao tabagismo custam, segundo o Instituto Nacional de Câncer, R$ 56,9 bilhões por ano ao país, considerando despesas médicas e perda de produtividade por doenças relacionadas ao tabaco. Os impostos recolhidos pela Receita Federal com cigarros, por sua vez, são de apenas R$ 12,9 bilhões. Há, evidentemente, um déficit de mais de R$ 40 bilhões.

Aumentar tributos é um caminho que beneficia a saúde e a economia. Essa é uma das formas mais eficazes de desestímulo ao consumo, e pode ser feita, por exemplo, com adoção de uma contribuição, como a Cide tabaco, direcionando os recursos para aplicação na saúde pública. 

Opositores dessa medida, leia-se a indústria do fumo e seus aliados, alegam que os altos impostos estimulam o contrabando, argumento que é, ali- ás, usado exaustivamente contra qualquer medida contrária aos seus interesses corporativos. No passado, o governo acreditou que reduzir os impostos conteria o mercado ilegal de cigarros. Não foi o que aconteceu. A questão do mercado ilícito é complexa e justamente por isso foi proposto o Protocolo para a Eliminação do Comércio Ilícito de Produtos de Tabaco pela OMS, aprovado no Congresso Nacional e que acaba de ser ratificado pela Presidência da República. É um instrumento que permite uma série de ações coordenadas e a cooperação internacional, que pode facilitar a mudança das políticas domésticas e eliminar a entrada ilegal de cigarros no Brasil.

Medidas de controle do tabagismo têm forte apoio popular e devem seguir sendo implementadas para que se ampliem os efeitos positivos na saúde pública. De 2006 a 2016 houve redução de 35% no número de fumantes no Brasil, de acordo com a pesquisa Vigitel/Ministério da Saúde. Após a lei antifumo ser adotada em São Paulo, em 2009, as mortes por infarto foram reduzidas em 12%, segundo o Instituto do Coração.

Sabemos o caminho. Sigamos por ele para que efetivamente possamos celebrar mais conquistas a cada 31 de maio, Dia Mundial Sem Tabaco.

* Psicóloga, diretora-executiva da ACT Promoção da Saúde




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