Quase metade das crianças brasileiras serão obesas em 2022

10.08.18


R7 - Gabriela Lisbôa

Segundo Ministério da Saúde, problema vai afetar 46% dos meninos e 38% das meninas; nutricionista culpa consumo de alimentos ultraprocessados

Mais de 46% dos meninos entre 5 e 9 anos serão obesos em quatro anos

Mais de 46% dos meninos entre 5 e 9 anos serão obesos em quatro anos

Flickr/Nancy Ripton

Uma projeção feita pelo Ministério da Saúde aponta que no ano de 2022, o número de crianças obesas no Brasil deve ser o dobro do que o registrado em 2013. Se os índices continuarem crescendo na mesma proporção, em 2022 o país terá 46,5% dos meninos entre 5 e 9 anos sofrendo com a obesidade infantil.

Para as meninas, a projeção é menor, mas ainda chama a atenção: 38,2% das garotas entre 5 e 9 anos devem ser obesas em 2022.

Os índices representam mais que o dobro do registrado há cinco anos, quando a projeção de meninos obesos era de 22,3% e o de meninas, 16,5%.

A meta do Ministério da Saúde é reduzir e voltar ao patamar de 1998, uma projeção de 8% para os meninos e 5% para as meninas. Um desafio que também envolve a família e a escola.

De acordo com a nutricionista Mariana Contiero San Martini, do Departamento de Pediatria da Unicamp, os altos índices de obesidade infantil envolvem uma série de fatores. Um deles é a dificuldade dos pais em conciliar trabalho e educação dos filhos.

“Eles precisam trabalhar fora, não têm tempo para cuidar e, muitas vezes, para se redimir, acabam comprando alimentos ultraprocessados que têm excesso de gordura, sal e açúcar”, explica a nutricionista.

Alimentos ultraprocessados são aqueles que passam por muitas técnicas, ou processos, que aumentam a durabilidade e diminuem o valor nutricional. Eles normalmente são saborosos e conquistam o paladar das crianças, mesmo sendo danosos à saúde – além do excesso de calorias, sal e açúcar, são pobres em vitaminas e sais minerais.

Entre os alimentos ultraprocessados normalmente consumidos por crianças estão os salgadinhos, iogurtes industrializados, biscoitos recheados, sorvetes, refrescos em pó, achocolatados e refrigerantes.

Junto com o consumo deste tipo de alimento, está a falta de atividade física. “As crianças comem estas coisas e depois passam horas sentadas em frente à TV, ao computador ou com o celular, elas não se exercitam com frequência”, alerta Mariana.

Meninas se cobram mais em relação ao corpo

Meninas se cobram mais em relação ao corpo

Getty Images

Meninas são mais vulneráveis a transtornos alimentares

Embora o número de meninas obesas seja menor do que o número de meninos, a nutricionista alerta que elas são mais vulneráveis aos transtornos alimentares como bulimia e anorexia.

Isso acontece porque as meninas se preocupam mais com imagem corporal, com peso e são mais propensas a pular refeições e deixar de comer alguns alimentos para reduzir medidas. Em alguns casos, os pais nem percebem que algo está errado.

“Como não conseguem acompanhar de perto a educação dos filhos, os pais não conseguem ver como eles estão se alimentando, se estão comendo o suficiente. A filha pode estar provocando vômito depois das refeições e eles nem percebem”, diz.

Para evitar o problema, a sugestão da especialista é o diálogo frequente com os filhos e com as pessoas que convivem com eles.
“Os pais devem estar sempre com contato direto com os profissionais da escola e observar quem são os amigos, onde a criança vai, como se comporta”, explica.

Aulas de culinária e nutrição ajudam as crianças a se interessar pelos alimentos

Aulas de culinária e nutrição ajudam as crianças a se interessar pelos alimentos

Kiyoshi Ota/Getty Images

Como evitar a obesidade infantil

Combater a obesidade infantil exige uma mudança total de hábitos que deve começar em casa. A nutricionista explica que é preciso que exista diálogo. “Uma conversa aberta sobre  bons hábitos alimentares”.

Outra dica é motivar os filhos para ajudar nas preparações culinárias. “Muitas  famílias compram  produtos alimentares prontos ou semi-prontos, não costumam compartilhar receitas e, muitas vezes, sequer cozinham receitas mais fáceis”, destaca.

A especialista explica que mesmo as crianças menores podem participar do processo, seja lavando alguma hortaliça ou fazendo alguma outra atividade mais simples e segura, desta forma o ato de cozinhar acaba se transformando em um momento de interação familiar. “O importante é dar preferência para produtos in natura, minimamente processados, para dar à criança a possibilidade de contato com legumes, frutas e alimentos ricas em fibra”, diz.

As atividades físicas também precisam ser rotina. Se os dias estão corridos, os pais precisam aproveitar o fim de semana para praticar exercícios e criar este hábito nas crianças – levar a um parque, andar de bicicleta, fazer caminhadas.

A escola também pode contribuir. Uma das possibilidades é criar uma disciplina sobre nutrição para ensinar os primeiros passos em direção a um a alimentação equilibrada. Os professores podem desenvolver atividades culinárias, de elaboração de hortas, passeios e caminhadas ao ar livre em bosques e parques. As cantinas também devem oferecer um cardápio saudável. “A escola deve estar de acordo com os alimentos oferecidos aos estudantes”, diz Mariana.

Índice de obesidade é menor entre adolescentes

Se na infância o número de obesos é alto, ele diminui consideravelmente na adolescência. A projeção do Ministério da Saúde é que em 2022, 13,8% dos meninos entre 10 e 19 anos sejam obesos. Entre as meninas da mesma faixa etária, o número deve ser de 7,8%.
Neste caso, a meta também é reduzir e igualar aos índices de 1998, quando a taxa de obesidade entre as meninas era de 2,7% e dos meninos de 3%.

A nutricionista Mariana San Martini explica que a diferença entre os índices de crianças e adolescentes acontece por causa da mudança no senso crítico. Na adolescência, surge a preocupação com a aparência por isso, os jovens tendem a se preocupar mais com o que que vão comer.

“Existe um cuidado em ingerir alimentos mais saudáveis e menos calóricos porque eles começam, nessa fase, a se preocupar mais com a aparência, começam a se comparar com os amigos. Os meninos querem ficar mais musculosos, as meninas mais magras”, explica Mariana.

Mesmo assim, a especialista alerta que existe a tendência que parte das crianças e adolescentes obesos se tornem adultos obesos ou com sobrepeso, levando para a idade adulta todas as doenças que o excesso de peso pode acarretar. “Antigamente não se via crianças ou adolescentes com triglicérides ou colesterol aumentados, hoje em dia isso acontece e pode levar a uma série de problemas cardíacos e vasculares”, diz.

A projeção do Ministério da Saúde para os adultos brasileiros é que 24,8% sejam obesos em 2022.

Veja como afastar o risco da obesidade infantil:

Não é fácil aceitar que seu filho não é apenas uma criança fofinha com as bochechas rosadas, mas, sim, está bem acima do peso. Porém, agora que a realidade está diante de seus olhos o ideal é entender as implicações que isso pode causar à saúde dele. Conheça algumas respostas às perguntas mais comuns quando o assunto é obesidade infantil

Ossos e articulações podem ser afetados? — Sim.  O excesso de peso pode sobrecarregar ossos e articulações da coluna e membros inferiores do pequeno e levar também a deformidades nas articulações dos joelhos e pés, por exemplo. Outros problemas que podem ser desenvolvidos em decorrência disso são a hiperlordose e a cifose

Causa puberdade precoce? — O excesso de peso faz com que o corpo crie resistência à insulina, responsável por fornecer energia ao organismo. Se, por exemplo, uma menina engorda, esse hormônio vai para os ovários dela, o que fará com que ela se desenvolva física e biologicamente antes dos nove anos de idade, sendo que o correto é que essa fase faça parte da adolescência. A esse desenvolvimento antes do tempo dá-se o nome de puberdade precoce

Obesidade pode causar algum problema na pele? — Bebês e crianças muito gordinhas devem ter atenção redobrada na hora do banho, já que as dobrinhas acumulam sujeira e suor e, por isso devem ser muito bem lavadas e secas. Outro problema de pele muito comum em crianças obesas é o surgimento de estrias. Neste caso os tratamentos existentes – à base de laser e ácido – são indicados apenas a partir da puberdade, e não para essa faixa etária. Espinhas também podem surgir, caso haja disfunção hormonal, causada pela resistência à insulina

Criança obesa manterá o peso acima do considerado saudável na fase adulta? — Estudos apontam que quatro em cada dez adultos obesos passaram pelo mesmo problema na infância. Mais um motivo para você incentivar seu filhote a ter um estilo de vida mais saudável

Provoca problemas no fígado? — Quando gordura é ingerida em excesso, o fígado não consegue metabolizar tudo, o que faz com que parte disso fique acumulado no órgão.  O armazenamento dessa gordura gera os triglicerídeos, o que aumenta o risco de doenças cardiovasculares

Nunca pense que é tarde para começar as mudanças alimentares e também a rotina de exercícios de seu filho. A saúde dele deve estar sempre em primeiro lugar e por ela vale qualquer sacrifício, não é mesmo? Boa sorte!

https://noticias.r7.com/saude/quase-metade-das-criancas-brasileiras-serao-obesas-em-2022-10082018




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