Rótulos de embalagens, sobretudo de alimentos, podem confundir consumidor

15.03.19


O Globo

Anvisa prepara mudanças nas regras de rotulagem para produtos processados, que devem ganhar alertas sobre teor de sódio, açúcar e gordura. Saiba mais sobre elas

Juliana Lessa, diabética, já teve problemas em função de informações imprecisas em embalagens Foto: Adriana Lorete / Agência O Globo

Juliana Lessa, diabética, já teve problemas em função de informações imprecisas em embalagens

Foto: Adriana Lorete / Agência O Globo

Com muitas informações, mas nem sempre trazendo os dados mais importantes ou clareza suficiente para o consumidor entender, rótulos e embalagens são um desafio na hora de fazer compras, sobretudo de alimentos. Informações imprecisas podem provocar situações de risco, como aconteceu com a engenheira e escritora Juliana Lessa, de 41 anos, que tem diabetes.

— Para calcular a dose de insulina a tomar, preciso saber com precisão a quantidade de açúcar e carboidratos num alimento — diz ela. — Já aconteceu de tomar a dose errada porque a porção do produto na tabela nutricional estava confusa.

Para evitar problemas como o que ocorreu com Juliana, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) quer padronizar os avisos em rótulos de alimentos ultraprocessados,
 como biscoitos, refeições prontas, macarrão instantâneo e refrigerantes. O projeto está em em consulta pública desde maio do ano passado. Relatório preliminar traz sugestões com duas abordagens diferentes.

A primeira defende o uso de alertas, com um triângulo preto num fundo branco, com avisos sobre alto teor de gordura, açúcar ou sódio, segundo recomendação da Organização Panamericana da Saúde. O modelo, sugerido pelo Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) e pela Universidade Federal do Paraná, foi inspirado no padrão usado no Chile.

— Queremos que a embalagem traga de forma mais fácil e simples os riscos que aquele alimento pode representar — diz Ana Paula Bortoletto, nutricionista do Idec. — A abordagem da advertência dá uma compreensão clara. Quanto menos, mais saudável.

A outra sugestão é usar nos rótulos imagens com semáforos coloridos (verde, vermelho e amarelo), que indiquem, pelas cores, se há baixo, médio ou alto índice desses componentes. Este modelo é defendido pela Rede Rotulagem, que reúne 22 entidades empresariais. Além da indicação de cores, os rótulos apresentariam o percentual de cada componente presente no alimento em relação ao que é recomendado para consumo diário pela Organização Mundial da Saúde.

— O semáforo é um símbolo universalmente compreendido, inclusive por crianças e pessoas analfabetas — diz João Dornellas, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), que integra a Rede Rotulagem.

Já o Idec critica a inclusão de percentuais afirmando que essa recomendação não considera grupos com necessidade alimentares diferentes, como crianças, idosos e atletas, assim como diabéticos e hipertensos. Além disso, o cálculo depende da porção recomendada. A proposta do instituto estabelece que as informações nutricionais sejam padronizadas para porções de 100 gramas ou mililitros, o que também desagrada à indústria.

Símbolos e etiquetas

Outro ponto de conflito está nas cores. O Idec e a ONG ACT Promoção da Saúde avaliam que o modelo de semáforo perde destaque nas embalagens, em geral muito coloridas, e pode confundir o consumidor. A sinalização por cores seria para cada um dos componentes de risco.

— Dois verdes podem dar a ideia de que o produto é saudável, mesmo com um vermelho. E a indústria já destaca nas embalagens aspectos que considera positivos, como “baixo teor de sódio” e “rico em fibras” — avalia Paula Johns, diretora-geral da ACT.

Dornelles discorda e diz que uma pesquisa encomendada ao Ibope mostrou preferência pelo modelo de semáforo. Segundo ele, o aviso colorido seria exibido dentro de um retângulo branco, destacando-se do rótulo. A Anvisa informou que não comentaria o assunto porque a consulta pública está em andamento.

Se a apresentação dos componentes nos alimentos processados é o tema mais sensível, outras informações em rótulos e embalagens criam dúvidas nos consumidores. O prazo de validade dos perecíveis, por exemplo, se refere às embalagens fechadas e às vezes, o consumidor não repara nas observações: “depois de aberto, consumir em até...”.

Nos cosméticos, muitos não sabem que um pequeno símbolo com um número dentro indica em quanto tempo usar o produto após aberto, que pode variar de 3 a 12 meses. As etiquetas de roupas, com imagens que informam sobre como lavar e passar, nem sempre têm símbolos conhecidos da maioria dos consumidores.

A compra de remédios também exige atenção. Embalagens com a letra “G” indicam que o medicamento é genérico e evitam que o consumidor o confunda com os similares (remédios de outra marca que não a de referência, ou seja, a primeira criada para aquele tratamento).

Atenção aos dados

Alimentos

Não se deixe levar por frases na embalagem, como “rico em fibras”, “integral”. Verifique a lista de ingredientes, que é organizada por ordem decrescente: o primeiro item é o presente em maior quantidade, e o último, em menor. Ao conferir a tabela nutricional, fique atento: na maioria das vezes, ela não corresponde ao conteúdo total da embalagem, mas a uma colher de sopa, uma xícara ou algumas unidades do alimento. Redobre a atenção ao comparar, pois as porções variam. Além da validade, observe o prazo para consumo após aberto.

Eletrodomésticos e portáteis

Além de informações básicas como voltagem, alguns produtos, como pranchas de cabelo, sanduicheiras e fornos elétricos, são certificados pelo Inmetro, sendo obrigatório o selo. Liquidificadores, secadores de cabelo e aspiradores de pó devem ter o Selo Ruído, de 1 a 5, sendo o último o mais barulhento. Para geladeiras, TVs, micro-ondas e ar-condicionado, verifique por consumo de energia: a letra A indica menor consumo.

Brinquedos

Observe a restrição de faixa etária: ela está relacionada a aspectos de segurança, para prevenção de riscos como sufocamento. A idade indicada para o uso, por sua vez, informa a adequação do brinquedo ao interesse e à habilidade da criança. Brinquedos nacionais e importados devem ter o selo do Inmetro.

Remédios

Além de data de fabricação e validade, observe o prazo para uso após aberto. A letra G escrita na embalagem identifica o remédio genérico. A fórmula é a mesma do original, mas na caixa só deve constar o princípio ativo. Os medicamentos similares, também com o mesmo princípio ativo do original, podem ter um nome fantasia.

Roupas

Verifique na etiqueta a composição têxtil. Os cuidados para a conservação estão representados, normalmente, por símbolos que indicam se o produto pode ser passado a ferro ou se exige lavagem a seco, por exemplo.

https://oglobo.globo.com/economia/defesa-do-consumidor/rotulos-de-embalagens-sobretudo-de-alimentos-podem-confundir-consumidor-23522887?fbclid=IwAR0cOoa_bQuZhu4p4Lsos33wkCyPLJK3b2GVJ-iLfSojMN628OOawYeAUPs




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