Agronegócio, Novos Produtos, Velhos Problemas, Reforma Tributária 3S e mais | Boletim ACT 172

02.06.21


ACT Promoção da Saúde

 

 

 

Editorial

Celebramos na última semana o Dia Mundial Sem Tabaco chamando a atenção para um problema que tem potencial para enfrequecer o programa nacional de controle do tabagismo: os cigarros eletrônicos ou de tabaco aquecido, conhecidos como dispositivos eletrônicos para fumar. Proibidos no Brasil, tanto para a venda como para a propaganda, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, são objetos de um pesado lobby por parte dos fabricantes para serem liberados. As empresas que os comercializam alegam que teriam menor risco à saúde, mas isso não foi comprovado por evidências científicas. Especialmente no contexto da pandemia de Covid-19, qualquer forma de fumar, incluindo com cigarros eletrônicos, deve ser evitada. Como o coronavírus provoca uma inflamação no organismo, a inalação de substâncias presentes nos cigarros agrava essa inflação, aumentando o risco dos fumantes desenvolverem formas mais graves da Covid-19.

Foi também pensando em romper com o discurso de que tudo o que é tecnológico seria moderno que criamos o conceito da nova fase de nossa nova campanha #VapeVicia,  lançada em 26 de maio. Chamada de Novos Produtos, Velhos Problemas, ela desconstrói anúncios que incentivam o uso de cigarros eletrônicos e apelam para as mesmas táticas que víamos no século passado, quando o moderno eram os cigarros light e de baixo teor em embalagens coloridas.   

Em parceria com a ACT, o Joio e O Trigo apresentou um infográfico sobre pesquisa que mostra a interferência da indústria do tabaco nas políticas públicas. Descortinando a fumaça: o lobby da indústria do tabaco em imagens é o primeiro de uma série que traz a posição do Brasil num ranking internacional de interferência  e as desigualdades em saúde da América Latina e o reflexo na pandemia da Covid-19.

Além do tabagismo, nesta edição, chamamos a atenção para a reforma tributária que defendemos: saudável, sustentável e solidária. Vemos este momento em que se discute o tema no Congresso Nacional como importante e bastante definidor do nosso futuro, com mais recursos para a saúde e para o meio ambiente e mais justiça social. Por isso, desenvolvemos um espaço no site para apresentar nossa posição e avançar neste debate. 

Da mesma forma, achamos importante destacar a interferência do setor de alimentos nas políticas públicas, estratégia que sempre foi usada pela indústria de tabaco. Como integrantes da Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável, repudiamos as indicações do governo do estado de São Paulo para o Conselho Estadual de Segurança Alimentar, o Consea-SP, e para a Sociedade Rural Brasileira. 

Também trazemos uma entrevista com o antropólogo Caio Pompeia, autor do livro Formação Política do Agronegócio, lançado recentemente pela Editora Elefante. Da origem do termo aos dias atuais, Pompeia traça um panorama do setor e enfoca os grupos de influência, que acabam por tangenciar, ainda, na questão ambiental. 

Por fim, não esquecemos as ações de solidariedade, para dar ajudar pessoas vulneráveis neste momento de crise. Se você fizer parte de algum movimento de apoio, seja por meio de doações de dinheiro, alimentos, roupas, livros, ou o que for, entre em contato com a gente.

Boa leitura,

 

Anna Monteiro | Diretora de Comunicação

 


Entrevista: Caio Pompeia, antropólogo.

Nesta edição, conversamos sobre os grupos de influência do agronegócio com o antropólogo Caio Pompeia, que atua no Programa de Pós-Doutorado em Antropologia Social da Universidade de São Paulo. Ele traça um panorama do setor, mostra quais são os principais atores e como atuam para influenciar políticas.

O que é o agronegócio? De onde vem o conceito de reunir agricultura com negócio?

O termo agribusiness foi criado na Escola de Negócios de Harvard, em 1955, sob estímulo financeiro de indústrias de alimentos, que então ampliavam seus empreendimentos no campo e pretendiam, portanto, qualificar o conhecimento sobre das crescentes inter-relações da agricultura com atividades secundárias e terciárias. O contexto em que as indústrias agiam era, por um lado, de aumento da urbanização nos Estados Unidos, e, por outro, de maior especialização das variadas funções agroalimentares relacionadas à agricultura.

Os criadores do neologismo defendiam que o agronegócio, tradução que passou a prevalecer no Brasil no final dos anos 1990, significava “a soma de todas as operações da fazenda, mais a manufatura e a distribuição de todos os insumos de produção agrícola providos pelos negócios, mais o total das operações realizadas em conexão com a manipulação, estocagem, processamento e distribuição de commodities agrícolas.”

Quais são os principais produtos do agronegócio? 

Os principais produtos são as commodities ligadas à agropecuária e às florestas plantadas, com destaque, na atual pauta de exportações do país, para as cadeias de carnes, soja, produtos florestais, álcool-açúcar e café.

Queria que você falasse um pouco sobre o acirramento das questões fundiárias e como este fato se relacionou à expansão das empresas de agronegócio.

Em relação aos temas fundiários, há alguns períodos marcantes. No ambiente de disputas da Assembleia Constituinte, segmentos patronais da agropecuária mais e menos modernizados tecnicamente se uniram entre si e com representações financeiras e industriais, como a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), para contestar as reivindicações sociais por reforma agrária.

Durante os anos 2000, a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) operou, em articulação com parte das associações agrícolas lideradas por agentes patronais, para enfraquecer a agenda de criação de assentamentos rurais, até o ponto em que tal agenda foi fortemente esvaziada.

Na década seguinte, encontrando-se ainda mais forte com a montagem de um núcleo empresarial em sua retaguarda, o Instituto Pensar Agropecuária (IPA), a FPA elegeu um novo foco: as áreas protegidas. Nessa direção, agiram decididamente para bloquear as demarcações de Terras Indígenas, além do reconhecimento de territórios de outras populações tradicionais. 

Como fica o meio ambiente nessa disputa?

Por conta de crescentes críticas ambientais no Brasil e na esfera pública internacional, tem havido, desde meados dos anos 2000, um processo de diferenciação de posições no tema entre as elites do agronegócio. 

Atualmente, é possível distinguir um gradiente de posicionamentos ambientais das representações dominantes das cadeias agroalimentares. Há, em um extremo, os pleitos “negacionistas”, que recobraram força com a eleição de Jair Bolsonaro e contestam a necessidade de ações na agricultura para mitigar as mudanças climáticas. As propostas antípodas a eles ganham materialidade em segmentos do agronegócio que estão mais suscetíveis a perdas comerciais e desinvestimentos, e defendem, consequentemente, medidas tempestivas contra o desmatamento, ao lado de iniciativas de transição para economia de baixo carbono.

Entre os dois polos no Brasil há variadas posições, desde algumas conservadoras, que negam o extremismo negacionista no meio ambiente, embora se associem a ele nas questões fundiárias, e também organizações empresariais que se omitem diante dos graves problemas ambientais que se amplificam no país.

Alguns aspectos ligados ao meio ambiente, contudo, despertam menos disputas no chamado “agro”, como os agrotóxicos.

No livro, você faz uma análise das lideranças, que acabaram se juntando em associações e fóruns, dos programas e das relações com o Estado. Queria que destrinchasse um pouco essas camadas.

De fato, o livro interrelaciona três dimensões analíticas: líderes e organizações empresariais, cartas programáticas e relações privado-estatais.

Na primeira, trato dos principais estrategistas relacionados ao agronegócio e das distintas associações empresariais que surgiram como tradução política da expressão agronegócio, ou seja, que promoveram alianças institucionais de atores da agropecuária com indústrias e representantes de atividades do setor terciário, como as financeiras. 

Examino, assim, núcleos intersetoriais cujo perímetro de abrangência se desdobra além do setor primário, como a Associação Brasileira do Agronegócio, o Conselho Superior do Agronegócio da Federação das Indústrias de São Paulo e o IPA. Nessa primeira camada, o trabalho também analisa as aproximações e recuos das empresas de alimentos ultraprocessados em relação a tais organizações.

Na segunda dimensão, o livro aborda os modos como os tratamentos de assuntos políticos amplos – a exemplo de meio ambiente, direitos indígenas, alimentos, questões trabalhistas, relações internacionais, política agrícolas, dentre outros – foram se alterando nos documentos e lobbying das associações empresariais nas últimas décadas. Nessa camada, podemos salientar também as posições corporativas sobre a agenda da segurança alimentar e nutricional, além das narrativas alimentares das entidades.

Na terceira dimensão, investigo as sucessivas iniciativas das associações do agronegócio para obter o atendimento de pleitos pelo governo federal. Nessa direção, trato das múltiplas relações que representantes do “agro” construíram com cada presidente da República, do início dos anos 1990 até o governo de Jair Bolsonaro.

No Congresso, já foi identificada a “bancada do boi” (e da Bíblia e da bala, a chamada bancada BBB). Como ela atua e quais políticas defende?

A Frente Parlamentar da Agropecuária atua em relação sistemática e institucionalizada com o IPA. A mesa diretora da FPA e o Instituto são, na verdade, as faces de uma mesma engrenagem política. Essa engrenagem opera com três funções essenciais: administrar conflitos e tentar promover consensos entre as diferentes organizações empresariais, e são quase meia centena delas que financiam o IPA); dotar os acordos possíveis entre as entidades de caráter técnico, especializado e operacional, o que funciona melhor em alguns temas, como os agrícolas, do que em outros, como os alimentares); e fortalecer a direção da Frente Parlamentar.

Essa tecnologia política atua sobretudo por meio de comissões especializadas em temas transversais. É nelas que se negociam os pleitos que poderão ser defendidos pela direção da FPA no Congresso e nas relações com o Executivo. Uma dessas comissões é a de “Alimentação e Saúde”, liderada por indústrias de alimentos. Essa comissão procura contrapor as iniciativas para regulação dos determinantes comerciais da saúde, contestando, por exemplo, a classificação NOVA.

Na sua opinião, como podemos ter um modelo de incentivo à agricultura que leve em conta a preservação do meio ambiente e da saúde?

É indispensável a retomada e o aperfeiçoamento da matriz de políticas públicas direcionadas, concomitantemente, ao fomento dos diferentes públicos da agricultura familiar e à promoção da segurança alimentar e nutricional. Edificada em diálogo com a sociedade e muitas vezes influenciada pelas agroecologias, essa matriz contribuiu decisivamente, enquanto foi apoiada, para a diminuição da prevalência de insegurança alimentar no Brasil. 

Por outro lado, tal matriz precisará estar mais bem conectada a ações cuja razão central é a preocupação com as relações entre a alimentação e a saúde pública, como aquelas voltadas a regular as atividades corporativas que têm operado na difusão de dietas não saudáveis e a aprofundar os esforços de educação alimentar no país, para os quais a defesa do Guia Alimentar para a População Brasileira é primordial.

Acredito que o fortalecimento mútuo entre as agendas da agricultura familiar, da segurança alimentar e da alimentação adequada e saudável é um dos fatores substanciais para promovermos transições mais amplas para sistemas alimentares saudáveis e sustentáveis.

Ao mesmo tempo, penso ser fundamental que a opinião pública possa acompanhar mais detidamente as atividades corporativas não saudáveis e ambientalmente insustentáveis, ampliando sua participando na elaboração de estratégias que conduzam a mudanças expressivas no atual cenário.

 


 

 

Dia Mundial Sem Tabaco 

Nas mobilizações do Dia Mundial Sem Tabaco, a coordenadora do Projeto Tabaco da ACT, Mariana Pinho, participou do webinar promovido pelo deputado federal Aroldo Martins, ao lado de outros parlamentares, representantes do Instituto Nacional do Câncer, da Organização Pan Americana da Saúde e da Secretaria Estadual de Saúde do Paraná, no dia 30.

Em 28 de maio, foi a vez da assessora de Relações Internacionais da ACT, Laura Cury, levar a questão ao Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod), da Secretaria Estadual de São Paulo. No webinar do Inca sobre Tabagismo, Covid-19 e Reforma Tributária, em 2 de junho, Roberto Iglesias, economista e consultor da ACT, foi um dos convidados.

 

Novos Produtos, Velhos Problemas

Está no ar mais uma fase da campanha #VapeVicia. A ação faz parte das mobilizações do Dia Mundial Sem Tabaco e foi lançada pela ACT no último dia 26, durante entrevista coletiva em conjunto com a Associação Médica Brasileira e a Fundação do Câncer. 

A campanha Novos Produtos, Velhos Problemas alerta sobre os riscos dos produtos conhecidos como Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEF'S), como cigarros eletrônicos, de tabaco aquecido, vaporizadores, pods e outros. Os fabricantes pressionaram a Agência Nacional de Vigilância Sanitária a liberar os produtos, alegando que teriam menos prejuízo à saúde e ajudariam quem quer parar de fumar. Mas além de não haver evidências suficientes para comprovar isso, a maioria contém nicotina e outras substâncias tóxicas e esses dispositivos acabam atraindo jovens que não consumiam tabaco antes. 

Compartilhe a campanha e pressione a Anvisa para manter a proibição: http://bit.ly/RedeVapeVicia

 

Brasileira recebe prêmio da OMS 

A médica Tânia Cavalcante recebeu o prêmio da Organização Mundial da Saúde(OMS) do Dia Mundial Sem Tabaco de 2021 nas Américas. A secretária-executiva da Comissão Nacional pela Implementação da Convenção-Quadro para o Controle de Tabaco foi condecorada ao lado de três instituições da Costa Rica, do Ministério da Saúde de Santa Lúcia e Paraguai, do Fundo Nacional de Recursos do Uruguai e de duas cidades da Califórnia. A ACT apoiou a indicação e parabeniza Tânia Cavalcante pelos esforços em construir um Brasil com mais saúde.

 

Inca confirma: cigarros eletrônicos na contramão do controle do tabaco

Um estudo elaborado pelo Instituto Nacional do Câncer aponta que o uso de cigarros eletrônicos aumentou em quase três vezes e meia o risco de um indivíduo experimentar o cigarro convencional. A pesquisa foi apresentada na cerimônia do Inca em conjunto com a Organização Pan-Americana da Saúde, no Dia Mundial Sem Tabaco.

A coordenadora de Prevenção e Vigilância do Inca, Liz Almeida, alerta que a liberação desses dispositivos, cuja comercialização é atualmente proibida no país, ameaçaria as políticas de saúde pública. “Isso mostra que o cigarro eletrônico oferece um grande risco de facilitar a iniciação do cigarro convencional entre aqueles que nunca fumaram, contribuindo para a desaceleração da queda no número de fumantes no Brasil", diz.

Os resultados foram publicados na revista Ciência e Saúde Coletiva e foram levantados com base em uma revisão sistemática de 25 estudos desenvolvidos em vários países para avaliar a relação entre o uso desses produtos e a iniciação ao tabagismo. 

O Inca também publicou uma nota técnica apresentando as ações desenvolvidas para a data no Brasil, um dos países no foco da campanha da OMS de 2021, cujo tema é Comprometa-se a parar durante a pandemia da Covid-19.

 


 

Apagão de dados sobre saúde

A ACT se manifestou em nota pública pedindo a publicação da pesquisa Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico, o Vigitel, de 2020, pelo Ministério da Saúde. Em reportagem, o portal O Joio e O Trigo apontou que o levantamento foi concluído em abril do ano passado. Mesmo assim, os dados ainda não foram apresentados. A divulgação dos resultados costuma ocorrer em maio, mas até agora não há indicação de data para ser realizada. 

Outra preocupação é sobre a coleta de informações para a pesquisa de 2021, que ainda não começou, colocando em risco o lançamento da pesquisa no ano que vem. 

O Vigitel é publicado anualmente desde 2006 e é fundamental para monitorar e elaborar políticas públicas para controlar os fatores de risco das DCNTs, como tabagismo, consumo de alimentos não saudáveis e bebidas alcoólicas e inatividade física. 

 

A Reforma Tributária que queremos é 3s: agora no site

Uma nova aba na seção O que fazemos do site actbr.org.br apresenta os eixos centrais defendidos no projeto Reforma Tributária 3S: Saudável, Sustentável e Solidária. A proposta tem sido articulada por um conjunto de organizações da sociedade civil – entre elas, a ACT –, como alternativa ao projeto que tramita no Congresso Nacional, cujo foco está apenas na simplificação dos tributos.  

Também publicamos uma nota avaliando o relatório sobre a Reforma Tributária apresentado em maio na Comissão Especial Mista no Congresso Nacional. A ACT considerou positiva a criação de um imposto seletivo sobre tabaco e álcool, com finalidade de reduzir o consumo. A organização defende o imposto seletivo sobre produtos que fazem mal à saúde, incluindo as bebidas adoçadas, com destinação destas arrecadações para o SUS e o fim dos subsídios a esses setores da indústria.

Podemos ir além. A Reforma Tributária 3S é uma oportunidade para construir um Brasil com menos desigualdade, mais saúde e com uma economia verde.

 

Conflito de interesses em ações contra a Covid-19

A NDC Alliance, rede de organizações da qual a ACT faz parte, e o consórcio de pesquisa SPECTRUM convidam a sociedade civil em todo o mundo para submeter casos de interferência das indústrias de tabaco, álcool, alimentos ultraprocessados, jogos de azar e combustíveis fósseis nas ações contra a Covid-19. Os exemplos vão fazer parte da segunda edição da ferramenta Respostas à Covid-19 de indústria de commodities não saudáveis  (o recurso está disponível em português), que mapeia esses exemplos e que chama a atenção para o encontro de pandemias: a do novo coronavírus e a das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs). A ACT falou sobre a primeira publicação no ano passado, em nosso Boletim de Monitoramento,chamando a atenção para o encontro de pandemias: a do novo coronavírus e a das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs).

 

Governador João Dória nomeia Abia para Consea-SP

O governador de São Paulo, João Doria, chancelou a presidência e a vice-presidência do Conselho Estadual de Segurança Alimentar (Consea-SP) a um representante da indústria de alimentos e uma representante dos grandes produtores rurais. A evidente incongruência e imoralidade desta medida foi largamente denunciada pela Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável e seus membros na luta pela garantia do direito à alimentação adequada e saudável, e também pelo conjunto de presidentes de Conseas estaduais, Comissão Organizadora da Conferência Popular por Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional e outras organizações e coletivos. Porém, infelizmente, a sociedade civil foi mais uma vez ignorada.

A nomeação de João Dornellas, presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), e de Amanda Araújo Pinto, diretora-executiva da Sociedade Rural Brasileira (SRB), pelo governador foi considerada uma afronta aos princípios que sustentam a existência do Consea-SP e a participação e controle social das políticas públicas. 


Série de lives sobre nutricionismo 

A série de lives sobre o livro “Nutricionismo: a ciência e a política do aconselhamento nutricional” está sendo um sucesso. Mais de 3,5 mil pessoas já assistiram ao webinar de lançamento, que contou com a presença do autor, Gyorgy Scrinis, e da chef e apresentadora Rita Lobo. Já a segunda live, com Paula Johns e a professora Inês Rugani (UERJ), aprofundou ainda mais no conceito de nutricionismo, e nas conexões entre as desigualdades e discrepâncias de poder que caracterizam o sistema alimentar hegemônico.


As lives são abertas ao público e fazem parte do programa do curso à distância que está sendo oferecido para mais de 280 professores da área de Nutrição de todo o Brasil. A formação tem duração de 30 horas e é uma realização da ACT Promoção da Saúde em parceria com o portal O Joio e o Trigo e com a editora Elefante.


No dia 10, o tema da conversa será “Como abordar o nutricionismo em sala de aula?”, com Denize Amorim, mestre em Educação em Ciências e Saúde pela Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ e a consultora da ACT Promoção da Saúde, Luciana Maldonado, que é professora do Departamento de Nutrição da UERJ. A moderação é de Silvia Farias, do Núcleo de Alimentação e Nutrição em Políticas Públicas da UERJ. Em 8 de julho, será a vez do tema “Nutricionismo e o desafio da formação do profissional da nutrição”, com as professoras Vanille Pessoa (Universidade Federal de Campina Grande) e Andrea Sugai (Universidade Federal de Goiás). A consultora da ACT Promoção da Saúde e professora da Universidade Federal Fluminense faz a moderação.

 

ACT contribui para Agenda Regulatória da Anvisa

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária incorporou à Agenda Regulatória dos anos de 2021 a 2023 um projeto proposto pela ACT Promoção da Saúde para se comprometer em atualizar a norma de exposição à venda e comercialização de produtos fumígenos derivados do tabaco. A proposta foi apresentada na Consulta Dirigida feita em janeiro deste ano e aprovada pela Diretoria Colegiada da agência reguladora em 21 de maio.

Na legislação atual, não há detalhes suficientes sobre esse ponto, abrindo brechas para que a indústria utilize a permissão da exposição das embalagens para divulgar maciçamente esses produtos nos pontos de venda. Por isso, a ACT sugeriu que a resolução restrinja o tamanho, a posição e outros aspectos da exibição.

O texto ainda contempla a continuidade da revisão da RDC 46/2009, sobre dispositivos eletrônicos para fumar, e inclui a contribuição com a implementação do Protocolo para Combate do Mercado Ilegal, também a atualização das advertências sanitárias nas embalagens e expositores de pontos de venda e normas relacionadas.

A versão final da Agenda Regulatória contém 146 projetos regulatórios sobre temas como Tabaco, Alimentação, Agrotóxicos e outros. Ao todo, foram 2.648 opiniões sobre os projetos, sendo 158 do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS) e 2.490 de pessoas e instituições da sociedade civil. O Tabaco e a Alimentação foram os temas com mais participações, com 60,3% e 10,6% respectivamente. 

Entre os onze projetos da agenda da Alimentação, os três que mais tiveram contribuições tratavam de boas práticas de fabricação para estabelecimentos industrializadores; a atualização do marco regulatório de materiais em contato com alimentos e o aperfeiçoamento da rotulagem de alimentos embalados. Entretanto, não foi acatada a inclusão de nenhuma das 54 novas propostas apresentadas envolvendo os onze projetos.

 

Guia sobre alimentação saudável para profissionais da comunicação

O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) acaba de lançar a publicação Alimentação em pauta: guia para profissionais da comunicação, elaborado para orientar a cobertura jornalística do tema por caminhos que coloquem as questões coletivas em evidência, em oposição a uma concepção individualista sobre a responsabilidade pela alimentação. 

Organizado em sete capítulos, o guia aborda as políticas públicas mais importantes relacionadas ao tema, além de exemplos de matérias para debate, com sugestões para a ampliação da abordagem jornalística; dados atuais sobre a alimentação dos brasileiros; a relação do aumento do índice de doenças crônicas não transmissíveis com o consumo de produtos ultraprocessados; informações sobre alimentação infantil; desafios relacionados à pauta da obesidade; dados sobre agricultura e, por fim, um panorama geral sobre a interferência da indústria.
 


 

Solidariedade

 


 

Notícias


 

Inca: cigarro eletrônico aumenta dependência da nicotina

Money Times, 31/5/21

Estudo feito por pesquisadores da Coordenação de Prevenção e Vigilância do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca) aponta para os riscos à saúde pelo uso de cigarros eletrônicos. O artigo foi aceito para publicação na revista Ciência Saúde Coletiva, da Associação Brasileira de Saúde Coletiva e divulgado hoje (31), quando se comemora o Dia Mundial sem Tabaco.

 

Fome provocada pela pandemia atinge 19 mi de brasileiros, diz levantamento

UOL, 22/5/21

Entidades da sociedade civil organizada voltadas para a segurança alimentar alertaram para o crescimento da pobreza e da fome neste período de pandemia do coronavírus. Em audiência pública da Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados, foi apresentado um levantamento com números do final de 2020 mostrando que 19 milhões de brasileiros estão em situação grave em relação ao acesso à alimentação.

 

Ministério da saúde cede à indústria de alimentos e atrasa combate a doenças crônicas

O Joio e O Trigo, 19/5/21

Contra as boas práticas que a condução da coisa pública prevê, o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Arnaldo Medeiros, atendeu a um pedido da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos, a Abia, e atrasou a divulgação do próximo plano estratégico para combate às doenças crônicas não transmissíveis, elaborado após consulta pública. 

 


 

Boletim ACT 172

Diretoria: Paula Johns (Diretora Geral), Mônica Andreis (Diretora Executiva), Anna Monteiro (Diretora de Comunicação), Daniela Guedes (Diretora de Campanhas e Mobilização), Fabiana Fregona (Diretora Financeira), Adriana Carvalho (Diretora Jurídica)

Editoração: Anna Monteiro

Redação: Anna Monteiro, Rosa Mattos, Emily Azarias

Mídias sociais: Victória Rabetim

Produção gráfica: Ronieri Gomes




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