Antes que seja tarde demais

16.07.21


Estadão

A pandemia de Covid-19 ceifou quase quatro milhões de vidas até o momento, em todo o planeta, e vimos uma agilidade da resposta da ciência, conseguindo desenvolver vacinas e produzir conhecimento. Tornou-se possível trabalhar para mudar o cenário num futuro próximo, mas é preciso ter afinco e responsabilidade para evitar uma tragédia ainda maior. Em relação ao futuro da humanidade e de nosso planeta, podemos traçar um paralelo bem parecido e agir rápido.

Acaba de ser lançada a quinta edição do Relatório Luz da Sociedade Civil sobre a Agenda 2030 no Brasil, em plena convergência entre as crises sanitária, social, econômica e ambiental, que aumentam nossas imensas desigualdades. Continuamos a ver como as parcelas mais vulneráveis ​​da sociedade são as mais duramente atingidas, tanto pela pandemia quanto pela resposta, insuficiente, a ela.

A análise das 169 metas dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), realizada por especialistas nas mais diversas áreas, indica a clivagem existente entre as aspirações contidas na Agenda 2030 e a realidade brasileira. O Sistema Único de Saúde continua desfinanciado e sobrecarregado. Mais da metade da população convive com algum grau de insegurança alimentar e cerca de 19 milhões de pessoas passam fome. As taxas de desemprego saltaram enquanto a concentração de renda foi favorecida, sendo que, em 2020, surgiram 66 novos bilionários, 21 a mais que em 2019, e o 1% mais rico do Brasil detém metade da riqueza nacional.

A perda de direitos sociais, econômicos e ambientais, arduamente construídos nas últimas décadas, fica patente nas 92 metas em retrocesso, que representam 54,4% do total, nas 27 estagnadas, ou 16%, e nas 21 ameaçadas, ou 12,4%. É possível observar que apenas 13 delas, ou 7,7%, têm algum progresso, embora insuficiente. Sobre 15, ou 8,9% do total, não há informação, o que, mais uma vez, marcou a produção deste documento. O chamado apagão de dados em curso é um fato que não consegue ocultar as enormes dificuldades enfrentadas pela população brasileira, principalmente pela maioria mais vulnerável. Não houve uma meta sequer com avanço satisfatório neste Relatório.

Em um momento que exige união de esforços, devemos promover o debate sobre como atingir equidade e um modelo mais saudável de desenvolvimento e de vida em sociedade. Precisamos, urgentemente, mudar o jogo, mote das duas últimas campanhas do Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para a Agenda de Desenvolvimento Sustentável. Já passou da hora de efetivamente repensarmos o status quo, movimento que deve ser ordenado por um desejo coletivo de prosperidade e paz, e onde os materiais e recursos necessários para a vida, incluindo os cuidados com a saúde, estejam disponíveis, tanto agora quanto para gerações futuras. Devemos nos comprometer a reconstruir melhor, usando a recuperação da Covid-19 para buscar uma sociedade, uma economia e um meio ambiente mais resilientes, justos e sustentáveis.

Cientistas estimam que, para além dos efeitos já tão devastadores da pandemia, o mundo pode atingir um nível irreparável num curto prazo, devido às mudanças climáticas se continuarmos no curso atual. O futuro distante está cada vez mais próximo. Não haverá recuperação possível do derretimento das camadas de gelo polares e de outros efeitos devastadores do aquecimento global. A emergência de saúde pública provou ser um teste para a promessa de não deixar ninguém para trás. Ainda estamos deixando milhões de brasileiras e brasileiros para trás, infelizmente.

É preciso repensar práticas comerciais, de consumo e modo de fazer política. Precisamos agir e reconectar com aquilo que compactuamos como nações para um futuro sustentável. Antes que seja tarde demais.

*Mônica Andreis, diretora executiva da ACT Promoção da Saúde

*Laura Cury, assessora de relações internacionais da ACT Promoção da Saúde

 

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