Fabricante de cigarro eletrônico terá que pagar U$40 milhões por causar pandemia nos EUA

12.07.21


Adriana Carvalho e Guilherme Perisse

Acusada de mirar em público menor de idade, fabricante de cigarros  eletrônicos recebe multa milionária - GQ | Tecnologia

 

Acusada de tornar uma geração de adolescentes dependentes de nicotina e, com isso, causar uma epidemia no consumo de cigarros eletrônicos entre este público nos Estados Unidos, a fabricante Juul assinou um acordo de 40 milhões de dólares (cerca de 209 milhões de reais na cotação de hoje) para encerrar uma ação judicial proposta pelo Procurador-geral do Estado da Carolina do Norte. 

O valor deve ser pago ao longo dos próximos seis anos e será destinado a programas de prevenção e apoio à cessação do uso de cigarros eletrônicos, além de pesquisas sobre os efeitos destes dispositivos. Pelo termo, a empresa ainda se compromete a alterar algumas de suas práticas de negócio para evitar atrair jovens ao consumo, como restrições de marketing, de acesso e de uso de sabores.

A ação foi proposta em 2019 com a alegação de que a companhia projetou, promoveu e vendeu cigarros eletrônicos para atrair jovens, levando a percepções errôneas sobre a potência e o perigo da nicotina em seus produtos. Documentos internos da empresa usados na ação ficarão públicos a partir de julho de 2022, o que vai aumentar a transparência sobre as estratégias de marketing da fabricante.

É a primeira vez que um estado do país responsabiliza com sucesso a empresa por seu papel no aumento do uso e dependência de cigarros eletrônicos por adolescentes. O acordo é válido somente no estado da Califórnia do Norte. Outros estados, vários distritos escolares e indivíduos também entraram com ações contra a Juul. Mas esses casos ainda estão pendentes. Diferente do Brasil, os e-cigarettes podem ser livremente comercializados nos Estados Unidos. 

 

Pandemia entre jovens

Durante anos, a Juul teve como alvo os jovens, principalmente os adolescentes, com o seu cigarro eletrônico no formato de pendrive e uma combinação de sabores agradáveis – como o mentol, inovações tecnológicas que rapidamente forneceram doses massivas de nicotina e campanhas de marketing engenhosas com jovens atraentes (como o uso de influenciadores digitais em redes sociais e o patrocínio de acampamento de adolescentes e de eventos em escolas).  

Como consequência, a empresa conscientemente tornou crianças dependentes de um produto nocivo à saúde e a dependência entre os adolescentes se tornou epidêmica.  O consumo aumentou entre estudantes de Ensino Médio de 1,5%, em 2011, para 20,8%, em 2018. No Ensino Fundamental, no mesmo intervalo, o consumo saltou de 0,6% para 4,9%. Em resumo, praticamente, 1 em 5 estudantes americanos do Ensino Médio usa cigarros eletrônicos. 

Naquele país, a pesquisa 2020 Monitoring the Future, patrocinada pelo Instituto Nacional sobre Abuso de Drogas dos EUA, revelou a evidência de que o uso entre jovens permanece em níveis epidêmicos e que os jovens continuam a ter fácil acesso a produtos de sabores. Em 2008, os cigarros eletrônicos mal existiam. Doze anos depois, 34,5% dos alunos do último ano do ensino médio afirmavam terem feito uso do produto no ano anterior à pesquisa, sendo que, em 2018, o crescimento no uso entre os estudantes do ensino médio foi de 78% (de acordo com o CDC - Centro de Controle de Doenças dos EUA), atingindo 3,6 milhões de adolescentes em idade escolar. 

O negócio se tornou tão lucrativo que, no ápice do crescimento do consumo entre os adolescentes, a empresa Altria, proprietária da marca Marlboro, comprou uma participação de 35% da Juul por 12,8 bilhões de dólares (cerca de R$67 bilhões).

 

Para além do acordo

As restrições do acordo não são suficientes para acabar com a crise. A Juul permaneceu como a mais popular marca de cigarros eletrônicos entre jovens em 2020 e há uma legião de adolescentes altamente adictos à nicotina, maculando toda uma geração. Somente o FDA (sigla em inglês para a agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos – semelhante à Agência Nacional de Vigilância Sanitária, no Brasil) pode tomar medidas mais abrangentes, como eliminar produtos saborizados e com altas doses de nicotina (Veja mais na nota da Tobacco Free Kids).

No Brasil, a importação, a publicidade e a venda de produtos como o cigarro eletrônico e de outros dispositivos eletrônicos para fumar é proibida desde 2009 (RDC 46/2009) e a manutenção dessa política é essencial para evitar a ocorrência de uma epidemia semelhante por aqui. Mas, os fabricantes têm pressionado a Anvisa para mudar as regras. Por isso, desde maio, está no ar a nova fase da campanha #VapeVicia, para conscientizar a população sobre os reais prejuízos causados por esses produtos. Conheça e participe!




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