ASCO declara pela primeira vez que o consumo de álcool é fator de risco de câncer

10.11.17 - Medscape


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 Pela primeira vez, a American Society of Clinical Oncology (ASCO) declarou formalmente que o consumo de bebidas alcoólicas é um fator de risco para vários tipos de câncer, sendo potencialmente modificável.

Além disso, a sociedade de oncologia acredita que sua nova "postura pró-ativa", com o objetivo de minimizar o consumo excessivo de bebidas alcoólicas, tem "implicações importantes para a prevenção do câncer".

"Mesmo o uso parcimonioso do álcool pode aumentar o risco de câncer, mas os maiores riscos são observados com o uso frequente e prolongado de grandes quantidades", escrevem os post_autores da declaração da ASCO, liderados pela Dra. Noelle LoConte, médica da University of Wisconsin-Madison.

"Por isso, coibir a ingestão de álcool é um meio de prevenir o câncer", disse a Dra. Noelle em um comunicado. "A boa notícia é que, assim como as pessoas usam protetor solar para diminuir o próprio risco de câncer de pele, restringir a ingestão de álcool é mais uma atitude que as pessoas podem adotar para reduzir o risco geral de ter câncer".

A declaração da ASCO, publicada on-line em 06 de novembro no periódico Journal of Clinical Oncology, recebeu ampla cobertura nos principais meios de comunicação.

"A mensagem não é Não beba., mas sim Se você quiser diminuir seu risco de ter câncer, beba menos. E se você não bebe, não comece a beber, disse a Dra. Noelle ao The New York Times". É diferente do que ocorre com o tabaco, para o qual dizemos: Não fume nunca. Não comece. No caso da bebida isso é um pouco mais sutil".

A sociedade de oncologia incentiva os oncologistas a se aliarem aos esforços da entidade: "Os oncologistas podem servir como consultores e líderes na comunidade, e podem ajudar a aumentar a conscientização de que o consumo de bebidas alcoólicas é um comportamento de risco para câncer".

No entanto, a ASCO também diz que "os próprios médicos têm poucas informações acerca do uso de álcool e da relação dele com o risco de câncer".

O público em geral também conhece pouco o assunto. Em uma pesquisa recente realizada pela sociedade, 70% dos americanos não reconheceram o consumo de bebidas alcoólicas como fator de risco de câncer, como publicado pelo Medscape.

"Em geral, as pessoas não associam o fato de beber cerveja, vinho e/ou bebidas destiladas ao aumento do risco de ter câncer", disse o presidente da ASCO Dr. Bruce Johnson. "No entanto, a relação entre o maior consumo de bebidas alcoólicas e a incidência de câncer já foi inequivocamente comprovada".

Na declaração, a ASCO observa que o consumo de bebidas alcoólicas tem associação causal com o câncer de orofaringe e laringe, o câncer de esôfago, o carcinoma hepatocelular, o câncer de mama e o câncer de cólon. Não obstante, o álcool pode ser fator de risco de outros tipos de neoplasias, como o câncer de pâncreas e os tumores gástricos.

No total, a ASCO estima que 5% a 6% dos novos tipos de câncer e das mortes por câncer em todo o mundo sejam diretamente atribuíveis ao álcool.

Uma série de mecanismos de causalidade pode estar em jogo, dependendo do tipo específico de câncer. Talvez o mais bem conhecido seja o efeito do álcool sobre os estrogênios circulantes, uma via relevante para o câncer de mama.

Nos Estados Unidos da América (EUA), a American Heart Association, a American Cancer Society e o US Department of Health and Human Services recomendam atualmente que os homens limitem o consumo de bebidas alcoólicas a uma ou duas doses de bebida por dia e as mulheres a uma dose por dia.

Entretanto, os post_autores da declaração da ASCO argumentam que uma meta-análise observou que o consumo de uma dose ou menos por dia ainda assim foi associado a algum aumento do risco de carcinoma de células escamosas do esôfago, câncer de orofaringe e câncer de mama (Ann Oncol 2013;24:301-308).

Definir o risco relacionado com o consumo de bebidas alcoólicas pode ser "desafiador", dizem os post_autores da declaração, porque a quantidade de etanol em uma bebida varia dependendo do tipo de bebida (por exemplo, cerveja, vinho ou bebidas destiladas), e da dose.

Dados conflitantes sobre o impacto do álcool no coração, especialmente o vinho tinto, são uma "barreira adicional" para enfrentar os riscos relacionados com o câncer. Mas pesquisas recentes (Addiction 2017;112:230-232) lançaram dúvidas sobre os estudos que declaram os benefícios do álcool à saúde do coração, revelando a existência de vários fatores de confusão, como a frequente classificação de pessoas que pararam de beber ou bebiam ocasionalmente como abstêmias, dizem os post_autores da declaração.

A ASCO diz que se junta a um "número cada vez maior" de instituições de tratamento do câncer e aos órgãos de saúde pública que apoiam as estratégias destinadas a prevenir o consumo de alto risco de bebidas alcoólicas. A declaração oferece recomendações baseadas em evidências de políticas para a redução do consumo excessivo de álcool, como a seguir:

Fazer o rastreamento do consumo de bebidas alcoólicas e intervenções breves em consultórios e ambulatórios.
Regulamentar o número de estabelecimentos que vendem álcool por região.

Aumentar os impostos e os preços das bebidas alcoólicas.
Manter as restrições de dias e horários nos quais a venda de álcool é permitida.
Melhorar a aplicação das leis que proíbem a venda a menores de idade.
Restringir a exposição dos jovens aos anúncios de bebidas alcoólicas.

Resistir à crescente privatização da venda de bebidas alcoólicas a varejo em comunidades onde atualmente o comércio de álcool encontra-se sob controle do governo.
Incluir estratégias de controle do uso de bebidas alcoólicas nos planos abrangentes de controle do câncer.

Apoiar os esforços para eliminar a prática de usar as campanhas relacionadas com o câncer de mama para promover produtos ou serviços (ou seja, dissuadir os fabricantes de bebidas alcoólicas de explorar a cor rosa, o "outubro rosa", ou as fitas cor-de-rosa, com o intuito de insinuar um compromisso com promover a luta contra o câncer da mama, dadas a evidências de que o consumo de álcool está ligado ao aumento do risco de câncer de mama).

Dois dos cinco post_autores da declaração informam ter vínculos financeiros com laboratórios farmacêuticos.
J Clin Oncol. Publicado on-line em 07 de novembro de 2017. Declaração



Link: http://bit.ly/ÁlcooleCâncer

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